segunda-feira, 16 de julho de 2007

Explicação Breve

Estes textos foram escritos durante uma das fases mais marcantes da minha vida: o início da vida adulta e das suas responsabilidades. O meu primeiro emprego, acabou por ser num stand temporário de venda de rosas de madeira.
Este texto foi escrito como um diário desses dias (22) e das 14 horas que lá passava. E, foi dedicado à mulher mais importante da minha vida, a minha (na altura) namorada, o meu mais que tudo no mundo.
Ela convenceu-me agora a passar estes textos a blog. Como isto deve seguir uma ordem cronológica, os textos serão afixados para baixo, e não para cima como o blogger faz. Vou tentar meter cá um por dia, até completar os 22 dias.
Espero que gostem destes textos cómico-trágico-pseudo-insultuoso-etc...
10-12-2003 - DIA 5

19h45
Por acaso, o título desta pseudo-obra com a qual te resolvi brindar é uma mentira, porque já passaram quase “vinte” dias dos 22. Vou aproveitar este momento, em que não se passa nada para te fazer um pequeno resumo do que se passou até agora.
O primeiro dia de toda esta epopeia reporta-se ao dia 5 de Dezembro, quando já tinha confirmado que vinha trabalhar. Como te deves lembrar, combinei com os meus pais vir a Santarém procurar casa e ver os rent-a-car.
Saímos de casa às 11h30 da manhã, o que não foi mau de todo, mas demorámos cerca de 1h15 a chegar a Santarém. Porquê? A resposta é óbvia: “Porque andar a mais de oitenta gasta gasolina!”.
Chegados a Santarém, como já só faltavam 15m para a uma, já não valia a pena ir aos rents, por isso, fomos logo ao Feira-Nova ver anúncios, com o meu pai a perguntar se eu ia ali alugar um quarto. Não havia nada. Pensei que era por ser longe e fui comprar o Correio do Ribatejo, ou uma m**** qualquer do género, para ver anúncios.
Só encontrava anúncios para aluguer a gajas. Procurei casa a casa e nada. Fui a um café e uma tipa deu-me os contactos. Acho que te lembras do resto da história: desde a tipa ter perdido o papel, ao bacano morar em Pêrofilho, ao berrar ao telefone, ao facto da casa só ser alugada a gajas, o único telefone público da Raposa ter sido arrancado da parede, tudo me aconteceu.
Mas, nada de desesperos, porque após falar contigo, resolvi erguer o queixo e deixar de pensar que o mundo todo estava contra mim. E, para confirmar a minha teoria, no dia seguinte, não houve autocarro para Santarém, às 07h10 da manhã, sendo que o próximo era só às 10h30. Lá tive de chatear o meu pai, que depois desta aventura estava cansado (quer da viagem, quer de mim), e convencê-lo a levar-me a Santarém.
Consegui chegar ao Feira-Nova contra todas as expectativas às 09h. Principalmente, devido a excelente e acelerada condução do meu pai.
Aqui chegados lembrei-me de outros pormenores da noite anterior e dias anteriores: o facto do meu pai em Santarém estar sempre a parar o carro e a mandar-me ir a pé procurar as coisas, o facto de em Santarém ser impossível arranjar casa, o telefonema da mulher, o primeiro dia com o P. Se tiver paciência, porque tempo não me falta, conto-te tudo isto com pormenores, mas agora, estamos no meu primeiro dia do My Fair Lady vs. The Terminator.
O gajo é francês, e como qualquer francês que se prese, é meio apandeleirado com as coisas. E, ele tem mesmo jeito com a m**** das flores e das vendas. Durante duas horas, levei ali um massacre sobre preços, tácticas de venda, bouquets, flores e disposição de coisas pela barraca, etc.
Eu estava mais preocupado com o facto de não ter casa, do que com aquela m**** toda, aliás, nunca pensei que esta treta vendesse. Quando fiquei sozinho, comecei a experimentar fazer os bouquets que ele me ensinara e até me safei bem (já os vendi) e depois comecei a inventar um, mas, nesse dia, não saiu nada de jeito. Mentira, consegui o de 3 rosas, do qual faço um desenho a seguir, para perceberes como é.
Claro que isto é um esboço péssimo, mas é o melhor que se pode fazer nestas condições. O original é muito mais bonito.
E, já que estou com a veia do desenho, vou-te fazer uma planta da entrada do Feira-Nova Santarém, de forma a acompanhares as coisas que te vou contando (qual Senhor dos Anéis, qual quê).



Como podes ver, estou logo à entrada, ou seja, estou sempre a mamar com o vento gelado lá de fora, estou de costas para tudo e, pior ainda, longe do Feira-Nova em si.
Mas pronto, voltando ao resumo, o primeiro dia foi um dia de atrapalhação nos preços, lentidão nos arranjos e vendas de 250€. E isso foi o que me surpreendeu mais. Isto vende que nem bolos quentes. Em 5 dias já fiz quase 1500€ a vender flores de tanga em arranjos maricas.
Após o massacre dos arranjos, logo ao lado da entrada estavam uns tipos a vender peluches para o Alzheimer. Tudo bem, lixaram-me o negócio, mas um deles foi a minha salvação. Pois tivemos os dois a tripar com a nossa situação a tarde toda. Sabes quem é que o gajo me lembrava? O F. A maneira de falar, o cabelo, as bocas do género: “Oh querida! Que lindas pernas! A que horas abrem?” entre outras. Foi o que me fez aguentar o primeiro dia. Isso e os 65€ que ia receber por ele.
O segundo dia foi estranho. Teve picos de venda e fiz cerca de 450€ o dia todo. Fiz uma quantidade de ramos incluindo a prenda da tua mãe, um bouquet de 31 rosas. Comecei a perceber o que as pessoas queriam e como endrominá-las. Esta “todo completamente estourado”, mas, mesmo assim, o dia correu muito bem.
No feriado estava ainda mais estourado (género andar a pé, ter dormido nos últimos três dias 10 horas, etc) e não me apetecia nada estar aqui. E, se por cada pessoa que disse nesse dia “Isto é tão bonito” me dessem 5€ eu estava podre de rico.
Ontem, continuava estourado, e não vendi nada de jeito. Soube do filme do Ar. e do outro agarrado e desisti da casa. Entretanto, já arranjei de vez alojamento com o A. É pelo melhor.
E, finalmente, chegamos a hoje, dia 5 da minha epopeia das rosas.
Primeiro foi o meu pai que me irritou, depois são as vendas, até comprar o caderno onde estou a escrever foi uma briga. E, para mais, fui à Caixa Expresso. Só demorei 10 minutos.
E agora o teu telefonema. Porra Maria, custava-te muito passar por uma m**** de uma cabine telefónica e telefonares para lá? Eu tenho de estar aqui 13 horas por dia, preocupar-me com clientes, com casa, com poucas horas de sono, autocarros, pagamento ou não pagamento, longe de ti e de todos. E, tu achas que ainda quero meter mais um grilo na cabeça? Bem podias telefonar tu porra! Um telefonema não sai assim tão caro. Mas não…não vale a pena. Sou sempre eu que me tenho de preocupar com tudo. F***-se, pensei que percebesses. E depois, fica chateada comigo. Para completar o ramalhete (gostaste da Pun)
Por hoje é tudo. Estou chateado contigo, não vendi um c****** e quero ir para casa.
Vou fechar a tasca.
11-12-2003 – DIA 6

11h44

Ontem não acabei por explicar qual a intenção deste diário. Como tenho entre mãos montes de tempo livre, passo o dia a pensar na vida, a avaliar os comportamentos e reacções das pessoas às coisas e às palavras que lhes dizem e são por elas ditas. E, quero, ou espero, conseguir transmitir-te estes pensamentos e análises, o mais fielmente possível, de forma a, se calhar, me perceberes melhor e perceberes o que estou a passar e vou passar aqui.
Hoje, dia 6 dos 22 dias que vou passar na banca do My Fair Lady, acho que finalmente já estou habituado (mas nunca conformado) com a situação em que me encontro. Nunca pus em causa vender flores por qualquer outra razão, nem as 13 horas ou 14 a partir de dia 15 me assustavam. Era precisamente o marasmo mental que me assola durante estes dias. Mas, espero que, com a ajuda deste caderno, o tempo passe depressa e que finalmente seja o dia 29 de Dezembro, dia 22 da epopeia e que eu ganhe os frutos de todo este esforço físico e mental gasto com toda esta história.
12h00

Acho piada ao pessoal que tem aquele aspecto de quem vive no campo mas, no meio de Santarém. Passam com os carros de compras atafulhados de tretas que não interessam nem ao menino Jesus e quando passam pela banca, olham para os preços e dizem "Isto é caro!".
Quer dizer, se calhar gastaram 50€ numa torradeira amarela só porque oferecia um sabonete e acham isto caro? Não percebo.
Depois, pior que estes são os que massacram com os preços, mexem, escolhem e descolhem e depois viram costas. Nem boa tarde, nem bom dia e basam. Claro que estes só são suplantados pelos que chegam, não dizem nada, mexem e atiram (repara que disse atiram e não largam) os bouquets para cima da banca. Infelizmente, raros são os que chegam com um “Bom dia”, perguntam se podem mexer, perguntam o preço e, indiferentemente de comprarem ou não, despedem-se com um bom dia e um obrigado. Em cada 100 devem aparecer 2. Aliás, lembras-te de eu me queixar que no Alto Alentejo eram todos sisudos e mal-educados? Santarém ganha aos pontos e tem um extra: a peixeirada. Em Portalegre, mandavam-te com uma má cara, mas nunca te dirigiam a palavra. Aqui gritam e esbracejam como se de tudo dependesse a sua integridade moral. O exemplo mais crasso que tenho disso é o pessoal que trabalha à minha volta.
Estou aqui todos os dias, desde a abertura ao fecho e, frequento o Café Alfa 2 e a barraca da Buondi. No café demorou-me seis dias até arrancar um bom dia a um dos empregados e na barraca ainda só consegui ser atendido logo que lá cheguei. Sim, porque, normalmente, elas estão tão entretidas a ler a Maria que ficamos à espera que elas acabem. Depois, é o tipo da Optimus, que é lá de Coruche (coincidência) e que tem a mania que é pintas. Ainda não se deu ao trabalho de me falar e eu estou-me bem a c****. Esse e a gaja da TV Cabo (que por acaso me lembra bué a A.N.: grande penca, cabelo bué estranho, roupa de combate rosa choque, etc) é que têm horários fixes. Entram às 15h, isso se chegarem a horas.
Finalmente, as pitas do cinema, parvas nas horas. No primeiro dia em que aqui estive, passaram em matilha e disseram para quem queria ouvir (e, acho que todo o Feira Nova ouviu): “Flores de Madeira a 1€…que caro! Se ao menos fossem naturais!”. Pitas parvas com, no máximo, o nono ano.
Como vês, tenho pensado e analisado muito, mas desconfio que ainda me falta passar por muita coisa.
12:33

Ainda não falei do meu pior pesadelo aqui dentro, aquele que me faz passar mesmo da cabeça. A Rádio Feira Nova. A Rádio Feira Nova (RFN) é composta basicamente por duas partes: músicas de Natal e anúncios ao Feira Nova. O grande problema é que eles só têm um CD de músicas de Natal, o que significa que já ouvi as mesmas músicas de Natal umas trezentas vezes cada.
Depois temos a segunda parte, o jingle do Feira Nova que eu sempre odiei, mesmo antes de estar aqui. Passa pelo menos entre cada duas músicas, ou seja, já o ouvi para aí umas mil vezes na boa. Mas, extra de qualidade, este é o maior, com uma lengalenga qualquer no meio que ainda o torna mais irritante. Depois, na selecção musical, só existe um clássico: “Mr. Grinch” e depois, Coro de Santo Amaro de Oeiras em força, Queen, Duran Duran, entre outros que não faço a mínima ideia de quem sejam. Over and over and over again.
Para juntar à festa, temos as famosas interrupções das empregadas com pérolas do género:
- “Tinininin – Empregada de limpeza junto à peixaria”
- “Tinininin – Permanência junto à caixa um”
- “Tinininin – Maria Odete ao Apoio ao Cliente”
- “Tinininin – Chamada telefónica para empregado do Electric Co.”
O curioso é que elas mal sabem falar, e acabam sempre as frases em sílabas agudas. Assim, “Caixa um” passa a “Caixum”, “Electric Co. passa a “Electricó” entre outras.
E, ainda lá vou perguntar um destes dias o raio é que é uma “permanência”. Será que é um cliente que se recusa a sair do sítio? Ou será código para alguém que está a roubar, mas sem sair do sítio? Escapa-me completamente.
A cereja em cima do bolo é o toque do telemóvel do gajo da Optimus. Aquele jingle antigo, mas em toque de telemóvel agudo. Ouço-o cem vezes ao dia e já me irrita profundamente. E, os gajos deixam sempre tocar o jingle, mesmo que não tenham nada que fazer, com o telemóvel na mão, como se ainda não tivéssemos oportunidade de perceber pelos cartazes e pela barraca que eles fossem da Optimus.
Neurónio a neurónio, eles vão-se apagando.
“Todos os dias, são dias de Feira Nova…” e de que maneira.
12h49

Uma velha, com o seu guarda-costas (coitado do homem), veio aqui, mexeu, não disse nada, e sai-se com esta pérola:
“O plástico destas é mais feio que o das minhas”
O plástico?! O plástico é todo igual, transparente. Nunca pode ser diferente, nem mais feio que…madeira.

13h06

Há uma coisa que me intriga. Vejo uma família aqui todos os dias a passar horas no Feira Nova. Todos os santos dias cá estão: o avô coxo, sempre de cigarro ao canto da boca, a arrastar-se por aqui; um cota desdentado com p’rai 35 anos e a sua esposa, ambos com cara de campo, com os seus dois filhos: o mexilhão e o chorão. Um mexe em tudo, até já me entrou na barraca e começou a rodar a manivela do papel. O outro chora por tudo e por nada, e todo o Feira Nova o ouve de certeza. Penso que são arrumadores ou pedintes. De qualquer das formas, são todos bué creepy.

13h30

O que me vale é que o bacano que tem o comando do vídeo wall aqui em frente deve sofrer do meu síndrome de –toufartodisto- e liga o Vê Agá 1. Otherwise I’d go mad, mad, mad!
E, tal como te dizia, o Chorão já está a chorar há uns bons 15 minutos. Aos gritos e aos saltos e mesmo a pedir um valente e violento par de estalos.
15h02

O que eu gosto mais na hora de almoço (como se eu tivesse uma hora para sair daqui, sentar-me nalgum lado e comer de faca e garfo, como qualquer pessoa normal) é a estranha falta de opções que existe na cafetaria aqui em frente.
Têm um grande advertising às refeições rápidas, mas tudo se resume a cachorros do tamanho de papos-secos e tostas. Depois temos a escolha do balcão que inclui as piores empadas que já comi na vida e uns pães com chouriço sem o mesmo. Sobram os panados, dentro ou fora do pão, que têm sido a minha salvação. Isso e as tostas mistas. Variações à ementa foram controversas.
Houve um dia que consegui comer uma quiche de atum e espinafres muito boa e ontem resolvi comer uma tosta de galinha péssima. Carregada de gordura e em pão de forma, foi uma excelente maneira de me sujar todo e apanhar uma valente vontade de defecar.
Como, supostamente, não posso sair da banca, tenho de almoçar ou jantar sempre virado para a banca e interromper, estas fartas e descansadas refeições, para atender supostos clientes que normalmente, quando põem os olhos na minha pessoa, fogem com medo que o florista mauzão os obrigue a comprar flores. Gostava sinceramente se perceber o que se passa na cabeça destas pessoas, mas não consigo.
Acho que hoje nem sequer vou chegar aos 100€. Ninguém pára aqui. Passam, olham por cima dos óculos, mas ninguém vem.
Quando esteve aqui o fornecedor, puto para aí da minha idade que me lembra muito o Maravilhas, estive a tentar sacar informações sobre valores vendidos. Mas, infelizmente, só soube que estão todos os postos a vender pouco, e que só um em Cascais é que tem levantado um pouco a moral a isto. E, segundo ele, não é do vendedor e não é da localização, portanto, é uma incógnita. O certo é que isto está mal para todos, incluindo para mim, que já estou a ver que não vai haver bónus para ninguém este ano.

16h00

As pessoas de Santarém são, no mínimo, bizarras e declaradamente merecedoras de serem objecto de estudo. Tal como já te disse, são arrogantes e armam peixeirada. Mas esqueci-me de fazer referência ao pormenor mais incompatível nesta análise: são todas tias e modelitos. Os homens, tirando os que trabalham a sério, andam todos de fato ou, se foram mais velhos, com fato escocês, tipo Sean Connery.
As mulheres são do mais estranho. Dos 14 aos 18 são todas Barbies e os palhaços no desemprego são uma minoria. Dos 18 aos 20/25 são todas umas vacas, com mini-saias e meias de renda, fios dentais e afiliados. Dos 25 aos 45/50 são todas empresárias com o fatinho da moda. Dos 50 para cima são todas ridículas, com óculos escuros, roupas berrantes e totalmente sem gosto. Há excepções. Os modelitos estão em todas as idades, com a mania que são alguém. Aliás, outro pormenor curioso é que nunca vi tantas miúdas com óculos como aqui. Parece que faz parte. E como dizia o Gémeo do L.: “Aqui parece que anda tudo com um pau no cu e uma guita no nariz.” Aparecem aquil$o de nariz empinado, roupa CK, óculos CK, mala Gucci e depois dizem que as rosas são feias, ou pior ainda, caindo na imbecilidade total, que não gostam de rosas. Ele há com cada uma…

16h30

E uma cadeira? Isso é que era! Uma cadeira…Sabes o que é estar 13 horas num espaço com 1 metro por 2 com apenas um banco para me sentar? E, mesmo que quisesse encostar-me à banca, não posso porque isto são tábuas sobre cavaletes. Moral da história, tenho uma dor de costas permanente há já 6 dias e os meus pés estão a matar-me. Mas, peço desculpa porque a menina está com o período. Quem sou eu para me queixar. Só por estar longe de tudo, 13 horas seguidas a trabalhar em pé, ou mal sentado, a vender flores a pessoas parvas ou chatas e dormindo 8 horas por dia, saindo de casa às 08h30 da manhã com 5.º C entre outros. Por isso peço desculpa por me queixar.

16h40

E já agora, desde já te digo que és muito egoísta quando queres. PUMBA!
16h40 ½

Mas eu amo-te mais que tudo e farei tudo para te ver feliz. Mesmo estar aqui a vender flores. Porque tu és a coisa mais importante da minha vida. Porque me mostraste o que é o amor. Aprender a amar. A viver. A dar valor a mim próprio. E muitas, muitas outras coisas que me fazem amar-te mais que tudo. E me fazem estar aqui a aturar gajas idiotas, velhas parvas e scalabitanos em geral.

17h08

E por falar em coisas bizarras, acaba de sair daqui a J.M. Está toda entrevada dum braço por causa do acidente que teve com a E., e veio a Santarém por causa da baixa. Acho que foi boa onda dela ter vindo visitar-me. É nestas coisas que ela ganha o meu respeito e que me faz considerá-la uma boa amiga.
O M. teve um filme parecido com o nosso da E.I. contou-me ela. Arranjou um serviço para aconselhar putos drogados e tretas do género aqui em Santarém, mas o problema é que a Sr.ª Ferreira Leite não assinou o protocolo que dava os ordenados a este pessoal. Foi a entrevistas, foi contratado, veio a Santarém conhecer as voltas e os sítios e depois, “Olha, desculpa lá o incómodo, mas não há guito para te pagar” . Isto é tudo uma grande cambada de fdp’s, é o que isto é.

17h37

Eu tenho mesmo de me passar com esta gente. Não é que um trio de velhos me pára o carro em frente à banca e vai tomar café? Mesmo encostado à banca e desaparecem na boa? Mas esta gente é toda parva ou há algo na água em Santarém que estupidifica esta gentinha. Meu Deus, ao que eu estava destinado!
A sério, só me apetece pegar na m**** do carro e espetar-lhes esta m**** na cabeça! Não é normal! E depois voltam, levam o carro e acabou. Nem obrigado, nem desculpe, nem nada.
O que vale é que o Vê Agá 1 está a passar um programa só de RAP dos anos 80. Ou seja, o programa até agora resumiu-se a MC Hammer, Vanilla Ice e pouco mais.
Jesus, só me apetece bater em alguém. Perdoai-os senhor, pois eles são todos umas bestas.

18h04

Hoje vou bater o recorde histórico de menos vendas por hora. Nem aos 100€ vou chegar. Hoje não é dia de compras no Feira Nova. É engraçado, mas as pessoas nos primeiros dias compravam ou vinham ver. Agora nem compram nem vêm ver. Passam para o Feira Nova e 120km e nem sequer param para respirar.
Mau dia, a média a ir-se com os porcos. Tenho de conseguir uma proeza e tanto no fim-de-semana para voltar a ser um dos vendedores de primeira. Senão, vejo o bónus a voar com as renas do Pai Natal. Se houver bónus…
19h48

Afinal recuperei um pouco, mas ainda estou no meu mínimo. Ao menos já passei dos 100€. Acho que abaixo dos 100 é mesmo bater no fundo. Mas ainda consigo fazer mais do que os outros, infelizmente, não todos.
Um casal que aqui veio comprar um bouquet levou dois. Eram simpáticos e às vezes até me custa endrominar este pessoal. Mas tinham dinheiro, portanto…
Um tipo muito curioso, fatinho de executivo, mas bastante simpático, veio cá pedir-me para fazer dois bouquets: um normal e um mini bouquet igual ao outro para oferecer um à mulher e outro à filha de 11 meses. Achei o gesto tão fixe, tão “eu”, que lhe ofereci o mini bouquet. Fico a imaginar nestes momentos a nossa filha, a nossa descendente, e fico embevecido. Acho que ter um filho deve ser das experiências mais enriquecedoras do mundo. Mal posso esperar para termos condições para termos a nossa filha.
Bom, mas agora vou jantar, porque já se faz tarde e eu necessito de uma alimentação saudável à base de pão e qualquer coisa lá dentro para sobreviver à batalha das flores.
20h33

Parecias-me triste ao telefone. Aliás, tens-me parecido muito triste ultimamente. Gostava de poder estar contigo, mas tenho de fazer este sacrifício. Para podermos ter algo nosso temos de abdicar de nós. Não vejo lógica nenhuma nisto. Mas também, nos dias de hoje, nada tem lógica.
Telefonei ao M. por causa do anúncio. Ficou todo contente, porque depois da última epopeia deve ter ficado como nós ficámos com o episódio da EI. Aliás, o nome até assenta bem, porque a única coisa que eles fizeram foi espalhar ideias ao pessoal, mas depois cumpri-las…
Mais tarde, depois disto tudo, ainda nos havemos de rir disto tudo. Mas agora, continua a apetecer-me ir a Lisboa e esmurrar o focinho àquele grandessíssimo cão.
Mudando de assunto (antes que comece a esmurrar velhinhas aqui), bastava-me vender mais um bouquet de Natal para igualar o meu pior dia. Mas sei que é quase impossível, porque a partir das 8 quase ninguém vem ao Feira Nova a não ser para compras de emergência e cinema, e mesmo assim o cinema hoje tem estado vazio. Agora está em exibição o Master and Comander, que é sinceramente o único em cartaz que queria ver. De resto tens o Mystic River, que é demasiado pesado para a minha vida neste momento, e filmes pastilha elástica: o último do Robert Rodriguez e uma comédia de amor qualquer. Nem um, nem outro, me despertam qualquer tipo de curiosidade.
De qualquer maneira, nem sequer tenho tempo para ir à casa de banho, quanto mais ir ao cinema. O que é irónico. Meter um agarrado, como eu, 13 horas em frente a 4 salas de cinema, sem poder ver um único filme. Paga de Deus pelas secas que te dei sobre cinema. Ou então, paga tua.

21h15

O dia está feito. Estou farto disto. Vou começar a fechar isto para ver se ainda vou lá dentro ver o que é que há para comprar no Feira Nova. E ver se apanho uma cena de luta no Matrix Reloaded no videowall, para descomprimir um pouco.
Amanhã, mais uma moeda, mais uma voltinha no carrossel dourado das flores.