10-12-2003 - DIA 5
19h45
Por acaso, o título desta pseudo-obra com a qual te resolvi brindar é uma mentira, porque já passaram quase “vinte” dias dos 22. Vou aproveitar este momento, em que não se passa nada para te fazer um pequeno resumo do que se passou até agora.
O primeiro dia de toda esta epopeia reporta-se ao dia 5 de Dezembro, quando já tinha confirmado que vinha trabalhar. Como te deves lembrar, combinei com os meus pais vir a Santarém procurar casa e ver os rent-a-car.
Saímos de casa às 11h30 da manhã, o que não foi mau de todo, mas demorámos cerca de 1h15 a chegar a Santarém. Porquê? A resposta é óbvia: “Porque andar a mais de oitenta gasta gasolina!”.
Chegados a Santarém, como já só faltavam 15m para a uma, já não valia a pena ir aos rents, por isso, fomos logo ao Feira-Nova ver anúncios, com o meu pai a perguntar se eu ia ali alugar um quarto. Não havia nada. Pensei que era por ser longe e fui comprar o Correio do Ribatejo, ou uma m**** qualquer do género, para ver anúncios.
Só encontrava anúncios para aluguer a gajas. Procurei casa a casa e nada. Fui a um café e uma tipa deu-me os contactos. Acho que te lembras do resto da história: desde a tipa ter perdido o papel, ao bacano morar em Pêrofilho, ao berrar ao telefone, ao facto da casa só ser alugada a gajas, o único telefone público da Raposa ter sido arrancado da parede, tudo me aconteceu.
Mas, nada de desesperos, porque após falar contigo, resolvi erguer o queixo e deixar de pensar que o mundo todo estava contra mim. E, para confirmar a minha teoria, no dia seguinte, não houve autocarro para Santarém, às 07h10 da manhã, sendo que o próximo era só às 10h30. Lá tive de chatear o meu pai, que depois desta aventura estava cansado (quer da viagem, quer de mim), e convencê-lo a levar-me a Santarém.
Consegui chegar ao Feira-Nova contra todas as expectativas às 09h. Principalmente, devido a excelente e acelerada condução do meu pai.
Aqui chegados lembrei-me de outros pormenores da noite anterior e dias anteriores: o facto do meu pai em Santarém estar sempre a parar o carro e a mandar-me ir a pé procurar as coisas, o facto de em Santarém ser impossível arranjar casa, o telefonema da mulher, o primeiro dia com o P. Se tiver paciência, porque tempo não me falta, conto-te tudo isto com pormenores, mas agora, estamos no meu primeiro dia do My Fair Lady vs. The Terminator.
O gajo é francês, e como qualquer francês que se prese, é meio apandeleirado com as coisas. E, ele tem mesmo jeito com a m**** das flores e das vendas. Durante duas horas, levei ali um massacre sobre preços, tácticas de venda, bouquets, flores e disposição de coisas pela bar
raca, etc.
Eu estava mais preocupado com o facto de não ter casa, do que com aquela m**** toda, aliás, nunca pensei que esta treta vendesse. Quando fiquei sozinho, comecei a experimentar fazer os bouquets que ele me ensinara e até me safei bem (já os vendi) e depois comecei a inventar um, mas, nesse dia, não saiu nada de jeito. Mentira, consegui o de 3 rosas, do qual faço um desenho a seguir, para perceberes como é.
Claro que isto é um esboço péssimo, mas é o melhor que se pode fazer nestas condições. O original é muito mais bonito.
E, já que estou com a veia do desenho, vou-te fazer uma planta da entrada do Feira-Nova Santarém, de forma a acompanhares as coisas que te vou contando (qual Senhor dos Anéis, qual quê).
Como podes ver, estou logo à entrada, ou seja, estou sempre a mamar com o vento gelado lá de fora, estou de costas para tudo e, pior ainda, longe do Feira-Nova em si.
Mas pronto, voltando ao resumo, o primeiro dia foi um dia de atrapalhação nos preços, lentidão nos arranjos e vendas de 250€. E isso foi o que me surpreendeu mais. Isto vende que nem bolos quentes. Em 5 dias já fiz quase 1500€ a vender flores de tanga em arranjos maricas.
Após o massacre dos arranjos, logo ao lado da entrada estavam uns tipos a vender peluches para o Alzheimer. Tudo bem, lixaram-me o negócio, mas um deles foi a minha salvação. Pois tivemos os dois a tripar com a nossa situação a tarde toda. Sabes quem é que o gajo me lembrava? O F. A maneira de falar, o cabelo, as bocas do género: “Oh querida! Que lindas pernas! A que horas abrem?” entre outras. Foi o que me fez aguentar o primeiro dia. Isso e os 65€ que ia receber por ele.
O segundo dia foi estranho. Teve picos de venda e fiz cerca de 450€ o dia todo. Fiz uma quantidade de ramos incluindo a prenda da tua mãe, um bouquet de 31 rosas. Comecei a perceber o que as pessoas queriam e como endrominá-las. Esta “todo completamente estourado”, mas, mesmo assim, o dia correu muito bem.
No feriado estava ainda mais estourado (género andar a pé, ter dormido nos últimos três dias 10 horas, etc) e não me apetecia nada estar aqui. E, se por cada pessoa que disse nesse dia “Isto é tão bonito” me dessem 5€ eu estava podre de rico.
Ontem, continuava estourado, e não vendi nada de jeito. Soube do filme do Ar. e do outro agarrado e desisti da casa. Entretanto, já arranjei de vez alojamento com o A. É pelo melhor.
E, finalmente, chegamos a hoje, dia 5 da minha epopeia das rosas.
Primeiro foi o meu pai que me irritou, depois são as vendas, até comprar o caderno onde estou a escrever foi uma briga. E, para mais, fui à Caixa Expresso. Só demorei 10 minutos.
E agora o teu telefonema. Porra Maria, custava-te muito passar por uma m**** de uma cabine telefónica e telefonares para lá? Eu tenho de estar aqui 13 horas por dia, preocupar-me com clientes, com casa, com poucas horas de sono, autocarros, pagamento ou não pagamento, longe de ti e de todos. E, tu achas que ainda quero meter mais um grilo na cabeça? Bem podias telefonar tu porra! Um telefonema não sai assim tão caro. Mas não…não vale a pena. Sou sempre eu que me tenho de preocupar com tudo. F***-se, pensei que percebesses. E depois, fica chateada comigo. Para completar o ramalhete (gostaste da Pun)
Por hoje é tudo. Estou chateado contigo, não vendi um c****** e quero ir para casa.
Vou fechar a tasca.